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About hate

  • Foto do escritor: Ana Carolina M.
    Ana Carolina M.
  • 6 de out. de 2019
  • 2 min de leitura

Atualizado: 19 de out. de 2019

Você sempre me disse que era muito feio usar a palavra “ódio”. Muitas das vezes que eu dizia que odiava alguma coisa você me corrigia, e dizia que ódio é uma palavra muito forte, que não podemos nunca dizer que odiamos alguma coisa, e quer saber, você estava certa! Nutrir o ódio por alguma coisa ou alguém é extremamente terrível, e faz mais mal a quem nutre o sentimento do que a quem é o motivo de tal. Mas sabe que eu ainda odeio passar em frente ao hospital que você morreu, odeio ver tantas pessoas entrando nesse mesmo hospital sem saber se elas vão passar pelo que você passou ou pior. Eu odeio lembrar de todas as vezes que fomos com você até o pronto socorro só pra ouvir pela milésima vez o médico te recriminar por ter bebido líquido demais (sendo que na maioria das vezes você não tinha exagerado) e te mandar fazer mais uma furosemida na veia e voltar pra casa. Odeio pensar em todas as pessoas que saem da consulta médica com uma restrição hídrica cada vez mais severa. Odeio encontrar pacientes com seu mesmo diagnóstico e pior ainda com seus mesmos sintomas, eu odeio ver uma pessoa chorar porque não pode tomar um copo d’água ou comer um pedaço de melancia simplesmente porque no final daquele dia ou daquela semana ele vai estar com o pulmão encharcado. Odeio ver pessoas buscando ajuda num lugar que não te ajudou, que foi omisso com você 99% das vezes te transformando numa causa perdida quando você ainda tinha alguma chance, e que criou falsas expectativas na sua cabeça e de todos nós quando a esperança já não existia mais. Eu ainda não consegui me desvencilhar desse sentimento por algumas coisas, e eu percebo que sempre que essa sensação vem eu me sinto mais cansada, é como se esse sentimento drenasse todas minhas energias. Eu ainda insisto em me culpar por não ter feito mais, por não ter encontrado uma saída, mesmo sabendo que a estrada te levaria a um único lugar, e que dali em diante todos nós precisaríamos seguir em frente sem você. Mas eu tenho me esforçado pra melhorar em vários aspectos, porque eu abri os olhos pra a verdade incontestável de que a vida continua sim sem você, quer eu queira ou não. E eu busco mudar pra melhor todos os dias pra me tornar a pessoa bondosa e amável que você foi. Eu não quero ser você, mas eu quero ser tudo que você me ensinou de bom. Eu quero que toda a saudade me dê forças o suficiente pra seguir em frente mesmo quando a vontade é de desistir, quero que você sinta orgulho de mim não por coisas grandiosas, mas pelas coisas pequenas que são tão difíceis ás vezes. E eu espero que você escute a minha voz sempre que eu falo com você, e escute o meu coração sempre que eu não falo.


Te amo mãe.


Ana Carolina M.


São Paulo, 25 de Setembro de 2019.



 
 
 

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