Minhas metades

Eu conheci duas metades da mesma pessoa. Duas pessoas com a mesma metade. Duas pessoas que se completaram a vida toda, tão iguais por fora, tão diferentes por dentro. Conheci uma pessoa introspectiva, tímida e de poucas palavras. Conheci também a metade dessa pessoa, expansiva, falante, sem timidez alguma. Uma delas me trouxe ao mundo e a outra me viu chegar. Ambas me carregaram no colo, me alimentaram, me amaram e me cuidaram, e eu em troca amei e amo as duas. Amo todos os dias, todas as horas, mesmo quando não estou pensando nelas, eu lembro, mesmo quando não estou perto delas, eu sinto. Uma dessas metades já foi embora desse mundo, levou com ela uma parte imensa de mim, uma parte que eu nunca vou recuperar, mas deixou comigo a metade dela. A metade da minha parte favorita continua comigo todos os dias. Seus rostos são iguais e seus corações também, mas o jeito de ser nem tanto. Minha pessoa favorita no mundo puxava assunto vez ou outra, geralmente pra saber do meu dia. A metade dela puxa assunto o tempo todo, mesmo quando não há assunto pra puxar. Com a metade tímida a casa ficava mais quietinha, mas sempre com aquela sensação de paz, amor e segurança. Com a metade falante a casa tem voz o tempo todo, tem assunto, e a sensação de paz, amor e segurança permanece. Eu tenho duas metades inteiras, dois corações que são meus, um ficou doentinho e foi embora, mas eu guardo ele comigo dentro do meu próprio coração desde a sua partida física. O outro coração ainda bate e eu sei que vai bater por muitos anos, ele bate com o meu quando a saudade daquela metade quietinha aperta. Nossa metade tímida foi embora, mas ela nos visita vez ou outra em algum sonho, e é sempre uma pra outra que nós contamos sobre a dor e a saudade daquela metade tão pequenininha de tamanho e tão imensa de amor.

E que saudades da nossa metade.

Ana Carolina M.

São Paulo, 18 de Outubro de 2019.