Leia ao som de "Fix You" (Coldplay)
- Ana Carolina M.
- 8 de jan. de 2020
- 3 min de leitura
Minha mãe foi a pessoa mais doce e incrível que eu conheci. Não sei como te passar essa real sensação apenas com palavras, mas todos que a conheceram sabem do que eu estou falando, e me desculpe quem não conheceu, mas você perdeu a chance de estar com um ser humano maravilhoso. Todos que passaram pela vida dela e todas as vidas pelas quais ela passou foram tocadas por mãos gentis e abraçadas por braços acolhedores.
Todos que puderam ter uma conversa com ela foram presenteados com palavras doces e risadas sinceras. E mais uma vez venho apenas salientar a grande mulher que ela foi. Infelizmente a vida nem sempre foi boa com ela, e algumas pessoas menos ainda. Nem sempre ela fez as escolhas certas, mas tenho certeza absoluta que ela sempre buscou acertar ao seu modo.
Quem provou sua comida sabe o quanto ela cozinhava bem e com vontade. Sempre que eu levava alguém em casa, fosse uma amizade nova ou antiga ela fazia questão de cozinhar algo novo. Sempre que o Victor ia em casa ela me dizia "tenho que cozinhar mais feijão, ele gosta né". Sempre que alguma amiga específica nos visitava ela queria preparar o que aquela pessoa gostava ou testar uma receita diferente.
Ela me corrigia quando achava que eu estava sendo grossa com alguém, me chamava a atenção quando eu levantava o tom de voz, e me ajudava nos trabalhos escolares....
Muito nova eu fiz uma carta para ela perguntando se eu era adotada, já que nunca me achei parecida nem com ela nem com meu pai, e para mim isso era apenas uma pergunta inocente, mas não sei até onde isso podia magoá-la.
Minha mãe se anulou como mulher pra ser mãe em tempo integral, pra ser irmã, amiga e o que mais precisassem dela. O coração dela foi partido em tantos pedaços e com tanta força que ela nunca mais teve coragem de deixar alguém encostar nele novamente, exceto por mim e nossa família.
Quando eu criança morria de ciúmes dela com outras crianças, com amizades e até com meus tios. Mas hoje eu entendo como as coisas são e só queria que ela tivesse conhecido alguém que desse a ela todo o amor e respeito que ela merecia, alguém que tivesse feito ela acreditar de novo no amor em uma forma diferente, e não apenas aquele que ela já conhecia e vivenciava entre a família. Queria que alguém além de mim tivesse dado flores pra ela, feito uma surpresa, levado ela pra jantar e se preocupado com cada detalhe do dia dela. Queria que ela tivesse vivido novamente a sensação de se apaixonar por alguém e ser correspondida. Não porque ela precisava disso, mas porque ela merecia.
Minha mãe era uma mulher que não arrumava briga, não se exaltava fácil, não gritava, não falava palavrão, e não falava mal nem de quem fez um mal imenso a ela. Ela era a definição mais precisa que eu tinha sobre resiliência, sobre dar sem esperar receber absolutamente nada em troca. E algumas pessoas infelizmente a conheceram apenas quando ela já não era mais ela, e eu sinto muito por isso, queria que TODOS vocês pudessem ter escutado o som da voz dela, e tivessem sido abraçados por aqueles braços, queria que TODOS vocês pudessem ter sido o motivo dela ir ao mercado correndo comprar o que vocês gostam de comer. Mas espero que um dia vocês se sintam tão absurdamente amados e protegidos como eu me sentia com ela.
"And the tears come streaming down your face When you lose something you can't replace When you love someone, but it goes to waste Could it be worse?
Lights will guide you home And ignite your bones And I will try, to fix you"
Como é fácil falar sobre você.
Ana Carolina M.
São Paulo, 07 de Janeiro de 2020.

Comments