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TEMPESTADE

  • Foto do escritor: Ana Carolina M.
    Ana Carolina M.
  • 25 de out. de 2019
  • 4 min de leitura

Você já enfrentou uma chuva que começou com pingos pequenos e foi se tornando cada vez mais forte? Você já enfrentou uma tempestade? Ainda pior que isso, você já se viu perdido no fim dessa tempestade? Sendo obrigado a presenciar a destruição que ela causou, e tudo que levou embora? Eu já! Mas a minha tempestade é uma metáfora. Entenda:


Quando a chuva começou eu já sabia que a tendência era piorar dali em diante, e que eventualmente eu precisaria de ajuda pra seguir até o final e sobreviver a tempestade que se formava. Mas eu fui relutante, eu me vi perdida no meio do furacão, vendo a tragédia se estabelecer e tentando me abrigar dentro de casa, pensando que ali eu estaria segura, sem tomar nenhuma atitude. Infelizmente (ou felizmente) a tempestade ficou tão forte perto do fim que eu percebi a necessidade gritante e urgente de buscar ajuda. E foi ai que eu vi um bote salva vidas no meio de tudo aquilo. Meu bote salva vidas também é uma metáfora.


Eu procurei a terapia. Mas qual terapia eu faço? Logoterapia.


A logoterapia é a ciência que estuda o sentido da vida. Em algumas definições na internet você vai ver que a Logoterapia tenta tratar o vazio existencial. Para o criador da logoterapia, Viktor Frankl, o ser humano se resume a três dimensões: física, psíquica e noética (esta relacionada a consciência, a mente e ao espírito). A logoterapia vem para trabalhar nessa última dimensão, por mais “impossível” que possa parecer. No meu caso a fonte da angustia e do sofrimento vinha de uma questão específica e sensível: o adoecimento de alguém que eu amava muito. E era o adoecimento físico de outra pessoa que estava causando o meu adoecimento emocional e espiritual. Minha mãe estava adoecida por fora, e eu havia adoecido por dentro sem perceber, até o dia que me vi no limite do que eu conseguia aguentar, depois de quase 2 anos em sofrimento permanente e crescente junto à ela. E quando eu não aguentava mais aquela situação foi preciso buscar ajuda. Foi nesse momento que (por indicação do meu namorado) conheci a minha terapeuta e a logoterapia. Durante as sessões ela me faz falar e buscar o entendimento do que me causa sofrimento, mas não é ela que me dá as respostas, ela me dá apenas as ferramentas pra que eu consiga encontrar uma solução. Ela me faz tirar o foco das situações que eu encaro como problemas, fazendo com que eu comece a ver as oportunidades da vida. Mas mais do que isso ela me “obriga” a sentir toda a dor que eu preciso sentir, afinal, ás vezes é necessário chegar ao fundo do poço pra começar a subir de volta. No início eu cheguei em um estado de desesperança tão profundo que cheguei a pensar que tudo aquilo era perda de tempo, e demorou muito pra que eu começasse a sentir alguma melhora no meu dia a dia e na minha sensação de bem estar. E nesse tempo de perda eu me anulei, esqueci quem eu era, do que eu gostava e como era me sentir feliz. Há mais de um ano eu não me sentia feliz, e entrei num modo de sobrevivência. A terapia não evitou o processo, mas me ajuda a lidar com ele. Me ajuda a entender que eu ainda tenho uma vida pra viver, mesmo que ás vezes eu não queira. E quando digo isso não quero dizer que penso em suicídio, nunca pensei em me causar algum mal, mas já pensei em sumir. Não espero que você entenda o que é isso, mas é uma vontade de dormir e não acordar mais, de realmente deixar de existir, de estar andando na rua e sumir... PUFF! Porque existem dias que a dor e a saudade são tão doloridas que naquele instante a vida deixar de fazer sentido, e você se questiona sobre absolutamente tudo. "Porque eu faço tudo que faço se nada disso me deixa feliz? Se nada disso faz a vida ter algum sentido" Mesmo que você saiba como tem sorte de ter pessoas que te amam e se importam muito contigo, quando você volta seu pensamento a AQUELA PESSOA que mais te faz falta ai não importa quantos te amem, você só quer o amor de uma pessoa de volta, e o fato de não tê-lo de forma física acaba com a sua mente. Nessas horas eu não me forço a ficar melhor, eu tento sentir o gosto amargo da saudade até onde aguento, e espero esse momento de desesperança passar. Ás vezes passa no mesmo dia, ás vezes leva uma semana inteira... mas passa.

Mas em resumo: faço terapia há quase 1 ano e só há aproximadamente 2 meses ela começou a fazer algum efeito sobre mim. Isso não é uma fala de derrota ou desmotivação, é apenas pra que você entenda que a subida rumo a saída do poço demora a acontecer, e não acontece de uma vez. Ainda tenho momentos de desesperança, ainda me questiono sobre muitas coisas, e sei que falta um longo caminho a percorrer junto da terapia, HOJE eu estou disposta a seguir em frente, mas quando eu não estiver vou deixar a chuva vir e chover o tempo que for necessário, porque agora eu sei que a tempestade já passou, então só vou esperar pelo arco-íris.


Ana Carolina M.


São Paulo, 25 de Outubro de 2019.



 
 
 

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